Estudo avalia necessidade de água da cultura do pinhão-manso
Planta é utilizada na produção de biodiesel e seu
óleo pode ter propriedades medicinais e cosméticas
O pinhão-manso (Jatropha curcas L.) vem se destacando no
cenário nacional e mundial por sua utilização para a produção de biodiesel. No
entanto, suas propriedades e demais utilizações ainda não são muito conhecidas
pelos pesquisadores, produtores e população em geral. Buscando entender as
necessidades de água e fertilizantes dessa planta, o Professor do Departamento
de Engenharia de Biossistemas da Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (USP/ESALQ) Marcos Vinícius Folegatti, tem trabalhado em um projeto de
pesquisa, na Fazenda Areão (Piracicaba-SP), sobre essa euforbiácea. Quatro
estudantes de mestrado e doutorado da instituição também participam do estudo.
Nunca foi realizado um
trabalho tão detalhado sobre o conhecimento das necessidades hídricas do
pinhão-manso, segundo o professor. Além das avaliações do grupo, cada aluno
envolvido também está elaborando uma pesquisa individual sobre a planta,
ponderando questões como a utilização da biomassa residual, transpiração,
interferência do nitrogênio na produtividade e qualidade do óleo e do seu
consumo hídrico. “Nos chama atenção o fato de que nunca foi feito um estudo
aprofundado sobre o pinhão-manso, pois essa planta possui uma capacidade de
resistência ao estresse hídrico muito interessante, além de um potencial do uso
de seu óleo e, na Ásia, já existem mais de 200.000 hectares cultivados para
produção de biodiesel”, afirmou Folegatti. Ele explicou ainda que se trata de
uma planta nativa brasileira e que há a expectativa de que o seu óleo também possa
ter propriedades para a produção de cosméticos e para o uso medicinal. “É muito
importante estudar plantas nativas brasileiras, que no futuro poderão fazer
parte do elenco de culturas produzidas em larga escala na agricultura do nosso
país”, defendeu.
Para medir a demanda de
água da planta e a evaporação da superfície do solo (evapotranspiração - ET), o
grupo utiliza seis lisímetros nas plantações da Fazenda Areão, sendo dois para
cada uma das três áreas com diferentes sistemas de irrigação: gotejamento, pivô
central e não irrigado. Cada lisímetro possui três metros de diâmetro e contém
30 toneladas de terra, com o mesmo solo da área, onde mede-se a quantidade de
água utilizada pela planta em cada método de irrigação. “A informação que o
lisímetro oferece é fundamental para os agricultores saberem quanto de água
precisam adicionar a cada fase do crescimento da planta e é fundamental na
agricultura irrigada saber aplicar a água corretamente, nem a mais nem a menos,
mas sim o que a planta precisa para produzir”, afirmou o professor.
A Estação Meteorológica da
fazenda coleta dados que são utilizados como ferramenta para determinar o Kc,
que é o coeficiente de cultural da planta que será utilizada no dimensionamento
e manejo de sistemas de irrigação. “Relacionando a transpiração da planta com a
evapotranspiração real que temos através do lisímetro, gera-se o Kc”, explicou
o doutorando do Programa de Pós-graduação (PPG) em Engenharia de Sistemas
Agrícolas, João Paulo Francisco, que está fazendo a calibração de um outro
método (fluxo de seiva) para determinação da transpiração da planta. “No campo
temos a evapotranspiração, que é a soma da evaporação do solo e da transpiração
da planta. Então, conhecer a volume de água que a planta utiliza no seu ciclo é
essencial para utilizar a água racionalmente”, disse. De acordo com o
estudante, dentro da estufa onde realiza seus experimentos, cada planta perde
de 50 a 60 litros de água por dia para a atmosfera, ressaltando a importância
de saber repor a água de forma correta.
Já o mestrando Otávio Neto
Almeida Santos realiza, desde 2014, estudo sobre manejo de poda, visando à
manutenção da planta. “O meu trabalho tem a proposta de avaliar três tipos de
poda que combinem com o efeito da irrigação e ausência dela, para verificar
qual opção gera maior produtividade, bem como possíveis diferenças na qualidade
do óleo extraído, informações úteis para uma futura avaliação energética do
sistema em estudo”. Santos também avalia os resíduos produzidos pela planta,
que podem ser utilizados como fonte de energia dentro dos processos de
cogeração das termoelétricas.
O consumo hídrico do
pinhão-manso irrigado e sem irrigação vem sendo avaliado desde a sua fase de
formação pelo doutorando Bruno Patias Lena, que atualmente avalia o consumo
hídrico desta planta até o quarto ano de cultivo. Ao mesmo tempo, o doutorando
Irineu Pedro de Sousa Andrade, avalia a variação das doses de nitrogênio para
verificar a produtividade e a qualidade do óleo extraído.
O projeto está sendo
desenvolvido desde 2011 e deve prosseguir por cerca de 10 anos. Os resultados
preliminares sobre o consumo hídrico, desde a implantação até o quarto ano de
cultivo, revelam que plantas irrigadas por pivô central apresentam maiores taxas
evapotranspirométricas em relação às plantas irrigadas por gotejamento e sem
irrigação. As médias de ET foram 3,4, 2,9, e 2,5 mm dia-1 nas
plantas irrigadas por pivô central, gotejamento e sem irrigação,
respectivamente. Isso representa cerca de 40 L de consumo de água por dia por
planta. Vale destacar o elevado consumo nos períodos mais quente do ano, em que
as taxas de ET foram próximos 8 mm dia-1 (100 L por planta).
Seguindo a mesma linha de
pesquisa do consumo hídrico em plantas produtoras de óleo, o grupo de pesquisa
planeja iniciar um estudo com a cultura da palma de óleo (Elaeis guineensis Jacq.). Esta planta se destaca por sua elevada
produtividade de óleo, sendo o mais consumido no mundo, a frente do óleo de
soja. Entretanto, em face à distribuição irregular das precipitações em algumas
regiões brasileiras, limita-se o cultivo da palma apenas na região Norte. Com
isso, torna-se necessário o uso da técnica de irrigação na região Centro-Sul
brasileira visando eliminar a ocorrência da deficiência hídrica e consequente
redução na produção final de óleo. O doutorando Eder Duarte Fanaya Júnior e o
Pós doutorando Jefferson Vieira José irão avaliar o balanço hídrico de palma de
óleo na fase inicial do seu desenvolvimento, em sistema de fertirrigação com
vinhaça.
O financiamento é da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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