quinta-feira, 22 de julho de 2010

Tecnologia proporciona união entre ciência e arte

Tecnologia proporciona união entre ciência e arte
Segundo uma lenda bíblica, o alecrim é uma planta abençoada, já que em certa ocasião, sustentara para secar ao sol as roupas do menino Jesus lavadas por Maria no rio durante uma manhã inteira quando a sagrada família fugia para o Egito. Tal narrativa chamou a atenção pelo valor espiritual e encantou a artista plástica Cristina Libardi que a cerca de 15 anos vem desenvolvendo seus trabalhos empregando conceitos sobre arte contemporânea e resolveu adotar o alecrim em abordagem para sua pesquisa em Nanoarte . Recentemente, Cristina fez o primeiro curso oferecido no Brasil, fora do âmbito acadêmico das universidades sobre nanoarte. O curso foi promovido pelo MuBE- Museu Brasileiro de Escultura em São Paulo pela artista midiática Anna Barros, que foi curadora em 2008 da pioneira exposição “NANO: POÉTICA DE UM MUNDO NOVO - Arte-Ciência-Tecnologia”.
Para poder desenvolver esse trabalho e fazer a interlocução com a ciência e tecnologia, Cristina contato com o professor Francisco Tanaka, do departamento de Fitopatologia e Nematologia (LFN), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), que para ela foi de importância fundamental. “Eu não imaginava que a ESALQ poderia estar aberta para receber este tipo de proposta, uma vez que este movimento ainda é germinal, mas o professor Francisco foi receptivo e acabou abraçando esse projeto e o diálogo tem sido muito profícuo”, reforça a artista.
Com essa aproximação, a artista encontrou a oportunidade de conhecer o alecrim de forma microscópica. Na prática, ela vem trabalhando em cima de imagens obtidas por meio dos microscópios de luz e o eletrônico de varredura do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Microscopia Eletrônica aplicada à Pesquisa Agropecuária (NAP/MEPA), espaço onde o professor Francisco Tanaka atua, orientando projetos de melhoramento de citros, guaraná e outros produtos agrícolas. São registros visuais do alecrim com até 30 mil vezes de aumento, que recebem a interferência da artista em softwares de manipulação de imagens. Na prática, a intervenção ressalta aspectos do relevo e a topografia da planta expõe sinuosidades e evidencia traços da estrutura molecular a partir do emprego de cores e alteração de características como brilho e contraste. “Conhecia as propriedades externas dessa planta mística e cheia de virtudes no conceito religioso e popular, mas agora vi e conheci sua formação interna. São imagens interessantes e belas, que se configuram numa espécie de renda e proporciona condições para metáforas em meus trabalhos, as quais procuro estabelecer relações imagéticas com conceitos ou idéias de forma criativa ”, diz Cristina.
Para Tanaka, olhar essas imagens com objetivo extra científico é algo raro entre os pesquisadores. “Na verdade, para nós que trabalhamos com ciência, diariamente, de forma centrada, utilizando imagens microscópicas como base de informação científica, não é comum pensarmos nelas como fonte de inspiração artística. No entanto, se há um grupo de pessoas tentando unir essas duas manifestações, ciência e arte, de forma sistematizada e que traga algum efeito somatório, então acho válido. É interessante notarmos que o que possui valor científico nem sempre terá valor estético ou filosófico, mas é justamente nesse diálogo que está o sentido dessa aproximação”, salienta.
Segundo Cristina, a arte não tem a pretensão de fazer ciência. “As áreas não se contrapõem, embora hoje a nanoarte esteja aguçando muitos cientistas a se aventurarem nas esferas artísticas das novas mídias”. Trata-se de uma possibilidade de união e convívio entre as áreas do saber, tidas até pouco tempo como antagônicas, e a real função é unir e provocar “insights”, promover a criatividade unindo o cenário artístico com a esfera científica e tendo como aliada a tecnologia para a obtenção de resultados que possam estar a serviço da coletividade. “A nano arte vem propor um mundo que sugere a interlocução sadia entre essas áreas do saber, ser promotora de alianças de criatividade em benefício do próprio ser humano ”, finaliza.

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