sábado, 31 de outubro de 2015


Gillet Press

Qualquer radialista da velha guarda sabe que sem a Gillet Press, os noticiários radiofônicos estariam condenados a desaparecer da programação. Em muitos casos, talvez na maioria, o “Departamento de Jornalismo” tinha uma ou duas pessoas que se revezam na tarefa de colher informações.
Por Jamur Júnior

Um ouvia e gravava noticiários de outras emissoras, enquanto o outro recortava as notícias publicadas em jornais, colava numa folha de papel jornal e entregava no estúdio, para o locutor do horário ler com aquele entusiasmo que dava a impressão de que o fato estava acontecendo naquele exato momento e na presença do repórter.
Mas, nem repórter tinha. Ao invés de repórter, recorte. Era um tempo em que não havia escolas de jornalismo. Os profissionais da área eram formados em direito, medicina, odontologia etc. A maioria do elenco era composta por estudantes de várias áreas, que trabalhavam por necessidade ou paixão pelo rádio e alguns com esperança de ficar ricos e famosos.
Muitos ficaram famosos, poucos enriqueceram. A prática da Gillet Press permaneceu por longo tempo, alimentando o noticiário das rádios e pregando peças em locutores. Contam que na Revista Matinal (programa de Artur de Souza na Rádio Clube Paranense), certa ocasião o locutor do horário, lendo o noticiário recortado de jornais chegou ao final da leitura com uma observação; continua na página três. 
Em Curitiba houve registro de um fato ocorrido na Rádio Paraná que apresentava um rádio-jornal no início da manhã, quase todo feito com noticias recortadas de jornais. O locutor começou a ler uma nota “assustadora” publicada no jornal A Gazeta do Povo. Na medida em que ia lendo fazia seus comentários. 
- Fogo na creche. Vinte crianças estão numa sala chaveada. – Isso é uma barbaridade – disse o locutor em seu primeiro comentário.
-Os bombeiros se atrasam por falta de combustível nos veículos e o fogo aumenta.- Mas que loucura, minha gente, afirmou indignado o locutor.
-Assim começa o primeiro capítulo da nova novela das seis na Rede Globo.
Mais indignado ainda, porque “pagou o mico” caiu de pauladas no jornal;
-Isso é uma irresponsabilidade. Não é possível uma coisa dessas. Esse jornal precisa tomar mais cuidado quando publica essas notícias.


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